sexta-feira, 15 de julho de 2011

Um título não importa

Ausências em presenças incomodam
Cada silêncio traz a memória o que não se pode esquecer
O instante da lembrança separa o músculo involuntário que pulsa do que é coração
E continuará em paralelo, em suspenso
Precisamente, nunca haverá linguagem esta paranormal
Capaz de se comunicar sem palavras
Se se levar em relevância o ordinário

Não, mesmo que gostemos de acreditar que haja,
Ninguém lhe trará exatamente aquilo de que precisava
Ninguém é capaz de suprir as ausências de ninguém
Ninguém é capaz de ser a projeção do que você tem medo de ser
É muito fardo para um mísero ser humano
É cruel com o outro, fetichizado
É cruel com você, irracional

Quando, em que, onde estará o fio de Ariadne? Não em quem.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

O som do coração

Adoro um drama e ontem à noite eu assisti a um dos filmes mais belos que já vi na minha vida, O Som do Coração. Não costumo postar sobre filmes que assisto, mas é que me emocionei ao ponto de chorar, aos que gostam de música sentirão o mesmo. Vim aqui escrever porque acho relevante ressaltar uns pontos: a magia e o encantamento do cinema. Não é uma espécie de filme alienado totalmente da realidade, nos mostra até uma realidade que não gostaríamos que nos fosse apresentada, mas que existe e pior, nem todos tem a sorte de ter um desses finais felizes, sabemos. No entanto a jornada do pequeno Evan nos toca, profundamente, por sua paixão, convicção e confiança, uma fé inexplicável naquilo que ele busca e deseja. Sua habilidade é de dentro, vem da alma, e uma paixão como essa não se controla, transborda, afloraria em qualquer circunstância em que estivesse. Quando terminei de assistir ao filme que não vou contar-lhes a história para não estragá-la, vou apenas lhes dizer que não é porque um filme termina com um final feliz que ele é clichê ou não presta. Queria compartilhar com vocês que às vezes precisamos das artes para nos dar o encantamento que nos falta na vida, a magia que se perde pela crueza do real, não para nos iludirmos, mas para não apagarmos em nós a esperança. Há sim aqueles filmes surreais que fazem parte de uma corja que quer mesmo acabar com a mente das pessoas, mas não deixem por conta desses desacreditemos totalmente em belas histórias que gostaríamos que fossem reais, que até poderiam ser reais. Afinal habilidades todos temos em potência e é verdade uns nascem com um tipo de inteligência mais bem desenvolvida, como o Evan. E se de fato tivermos tanta certeza no que acreditamos nunca desistiremos de lutar por ele e talvez um dia o alcemos, uma coisa é certa não nos faltará a esperança de o perseguir.

um gostinho do filme:http://www.youtube.com/watch?v=44nN72E5JDg (link para o trailer)

sábado, 1 de janeiro de 2011

E que venha 2011

Já teve tempos em que achei desnecessário comemorar a virada do ano, porque inúmeras promessas são feitas e sempre vemos não mudar nada, inúmeras expectativas e nada se modifica, transmuta pra ficar do mesmo jeito, mas aí pensei... Qual o verdadeiro motivo da comemoração da virada? retirando todos aqueles falsos abraços ou confraternizações meia-boca, retirando todas aquelas mensagens de auto-ajuda, paz, amor que só parecem florescer nesses dias em que rumam pra reta final como se fossem um meio de extirpar os pecados íntimos e ficar iludidamente de bem com a consciência. Quando na realidade nada muda, os que são ricos continuam no mesmo lugar de sempre, intocados, e os que são pobres ajudados pela indulgência alheia nesse tempo são até um pouco redimidos, mas não porque os indulgentes saibam que a existência do miserável é inaceitável e consequência do próprio modelo de sociedade que vivemos, mas porque nesse período do ano aquele que lhe sugou tudo quer demonstrar o quanto que é generoso, em toda sua suntuosidade ainda olha para o mais necessitado e o ajuda, nossa quanta aquiescência!!! Mas também é só nesse período do ano, passou-se o dia 1 volta-se a frenética vida de sempre, a real vida neurótica onde o outro é apenas mercadoria a ser explorada. Sem falar em todos os cínicos jogos de poder em inúmeras esferas. Sim mas aí eu penso, qual o real motivo para se comemorar a virada do ano? Sem fraternidades e sensibilidades produzidas por propagandas que visam no final das contas fazer um jabá de suas marcas e produtos ganhando dinheiro perante a infelicidade alheia, sem uma consciência de caridade apenas atrelada a uma recompensa divina, sem falsas promessas, nem otimismos infantis. Recorro à resposta mais óbvia, depois de 365 dias terrenos algumas horas, minutos e segundos, concluímos uma volta inteira ao redor do sol, finda-se a dança cósmica do planeta e inicia-se outra. Há 4,6 bilhões de anos o planeta faz o mesmo percurso, quantas histórias já se iniciaram, findaram e iniciaram e findaram e... dentro desse curso e agora temos mais um ano para persistirmos em outras mais. Enquanto há humanidade, enquanto há a consciência de justiça, enquanto não apagarem a ética, enquanto existam os que não maquiam a verdade e acreditam no valor da sinceridade, enquanto existam os que são solidários com os seus iguais ou não, não apenas impulsionados por discursos forjados, por espiritualismos, mas por não serem omissos com aquilo que veem de errado, enquanto essa chama arder farei parte do Utopia Futebol Clube, sei que encontrarei alguns outros utopianos por aí perdidos em ilhas próximas ou distantes e tendo motivos para acreditar numa virada de ano como um livro inacabado com centenas de páginas por escrever.

sábado, 30 de outubro de 2010

De Mar a Mar e despedidas...

Mar, amor de tantos poetas
Casa mais esta que a ti fez juras de solidão
Sela este brinde com ondas salgadas
Que o doce já não sente o coração

Traga consigo o canto das sereias
Ou teus monstros mais exóticos
Nosso medo tu não alteias

E não sinta de nós pena
Pusemos-nos à deriva por vontade
Mesmo não tendo a alma serena
Basta-nos tanta realidade

Entre tanta correnteza
E Durante as noites mais escuras
A lanterna estará sobre a mesa
A tinta será derramada
O pincel esquecido
A letra borrada
O Caderno preenchido

Esvazia-nos, Mar
Ao mesmo tempo em que nos preenche
Toma o que teu é
E dá-nos em retorno uma nova mente

- Au Revoir!
- Arrivederci!

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

02:28

É assim que tudo termina? Tu já sabias, admita!
Por mais que tu não demonstres... Sua consciência é aguçada... é?!
E sim... finja ser forte, todos no final esperam isso
Você sabe que seus ombros poderiam ficar mais leves?
Mas insistes na complexidade, insistes no que não conheces?

Tu querias descobrir os mais adoráveis e terríveis gostos que tem o incerto?
Pois é, agora o prove. Já tens todos os ingredientes?
Não. Ainda faltam mais, porque você não chora...
Tu sabes, as lágrimas não ultrapassam as bolsas que tens nos olhos
Também... são tantas noites sem dormir, elas tem bastante espaço para comportá-las.

Será isso mais uma vez? Sempre estás nas superfícies?
O oceano é ainda maior, muito mais profundo
É no mais escuro azul que toda água fica transparente
E quando a sua respiração te sufoca, quando teu corpo quer mais um fôlego
É aí que saberás onde mora a dor do outro

Não suponha um mundo que não conheces
São imensos os labirintos recorrentes em toda a humanidade
Tu és apenas um espelho dela, não penses que és o único ser a se perder neles
E se é para ser assim, que não o sejas. Exista!
Por que não consegues dizer não?
Toda a sua razão leva a mais sensata resposta

E queres ser sensata? Não completamente?!
Viver apenas racionalmente é viver? Sei, sabes que não,
Só não penses que continuar da forma em que vais, vais a algum lugar,
vais é se perder...
Os caminhos são imensos e eles podem engolir-te
Mas é exatamente isso que queres?
Sabes que é no se perder que vais te achar

Fuja das frases feitas, como a última agora dita.
Muitos mentem, queres também que eu não minta?
Quem tu achas que contam verdades?
Confias no que dizes, completamente? Ou és covarde?

Tenhas na mão um pincel, na cabeça uma imagem e pintarás o que quiseres, certo?
E as pessoas verão o que querem ver, certo?
Completamente errado, subestima-os.
A linha entre o que sustenta uma interpretação e do que se aproxima da realidade é perceptível quando vivenciada por muitos
Achas que isso te diz o que é real?
Viva, reflita, duvide
Quem sabe serás um dos poucos que tomam o caminho contrário.

sábado, 21 de agosto de 2010

Espelhos da alma

Numa noite escura, cinza e silenciosa, em meio a angustiantes nevoeiros provocados não sei se pelo tempo ou se mesmo pelo embaçado dos meus olhos, não se era possível visualizar qualquer forma que estivesse a mais de uns cinqüenta metros de distância. No entanto, surgia caminhando em minha direção uma sombra não muito grande, esperei a aproximação inevitável, afinal, os nossos caminhos se entrecruzavam, minha tensão do momento se desfez após o desvendar do encontro, era apenas um cão que caminhava no centro do negro e brilhoso asfalto iluminado pelas poças d’água a luz da lua. Parei para ver a figura de pelos cinzas e brancos, vistosos, sua aparência era extremamente bela, bela como um idoso que parecia resguardar inúmeros passados não confessados. Mas, nunca havia visto um olhar e semblantes tão tristes, andava com a cabeça baixa como se carregasse o peso do mundo nas costas, caminhava e apenas seguia sem direção, só andava enquanto havia forças para continuar e nenhuma distração para lhe envolver. Fui esfregar meus olhos só pra não ter dúvidas de que via miragens, fantasmas, ou se não era eu mesma que criava aquela figura, no entanto só me restou o nada e minha forma agachada com o olhar fixo no chão numa daquelas poças que refletiam a lua, as estrelas e ao lado do meu rosto um cão de alma rasgada que agora estava dentro das minhas retinas. Calafrios tomaram meu corpo inteiro, despertei de um sonho, ainda à noite, com os pés frios tocando o chão do quarto, espirros como de costume, caminho entre o sono, o sonho e a realidade até o banheiro lá onde tudo se desfaz e novamente somos despertados para o nosso cotidiano, mais ou menos sem ânimo lavando o rosto, mas evito o espelho sei que há algo nos olhos que não quero que nem mesmo eu os veja. Os olhos... é lá que não conseguimos esconder nada, palavras são ótimos disfarces, mas como já dizem, mas não sei quem, olhos são espelhos da alma e os outros os decifradores dela, para isso um menifesto às cegueiras momentâneas: que se fechem os olhos, se abram os ouvidos e se acentuem os sabores das dúvidas.

sábado, 27 de março de 2010

Da brisa, de um pássaro e do livro desencapado

Ao vagar em certo lugar, ao menos isso sei, que chamavam devaneios e ao encontrar ali poucos obstáculos, dei-me conta de estar numa imensa sala de paredes ricamente adornadas com inúmeras estantes de madeira de lei repletas de livros. Ao discorrer o meu olhar pela suntuosa sala, vi de relance no canto esquerdo e no fim da última prateleira certamente algo que destoava ao organizadíssimo e harmonioso acervo. De fato a sua utilidade fôra drasticamente minimizada, no momento só servia de escora para que os outros não saíssem de seu milimétrico espaço minuciosamente pensado pelo colecionador de capas. Com certeza seu tempo ali já estava mais do que ultrapassado, bastaria que a estupefata ambição do colecionador descobrisse outra bela capa a qual se encaixasse perfeitamente com as formas, tons e cores de seu acervo para que com brevidade fosse substituído. Caso não tenha ficado claro, a coleção da qual relato é de livros e pasmada fiquei ao notar que o interesse do surreal lugar era mesmo o citado, apenas as capas pouco importava o teor das páginas. Então, após essa mínima sondagem feita aos umbrais, fui ouvir o que o tal livro desencapado tinha a relatar, pois fiquei um tanto irrequieta ao saber que a principal regra do lugar era de nunca, jamais, nem por um segundo, deixar os livros abertos para que assim suas capas pudessem ser absolutamente conservadas a fim de que nada fosse modificado. Aproximei-me de leve, ainda mais leve do que costumo ser e como quem nada quer do tal livro fui cuidadosamente escutar os sussurros sufocados os quais depois também se revelaram a mim sufocantes dado o angustiante estado no qual se encontrava e do peso de suas confissões, estava mais do que no lugar errado. Ao conversar, disse-me que já não agüentava mais estar sempre preso ao mesmo lugar e escutar sempre as mesmas ladainhas que se esvaíam em superficialidades e em julgo de aparências, ansiava em um desespero aterrador que alguém se interessasse por palavras e por significados, a ele pouco importava-lhe a capa o que mais desejava era saber o que estava por detrás dela. Sabia que já havia passado pelo mesmo que esses tantos, já valorou por demais os títulos, sub-títulos, as artes das imagens que vestia até que pelo acidental rasgo de um espelho perdeu sua roupa e viu-se despido em palavras, palavras essas que diariamente tinham o poder de o conflitar ou pacificar, o preencher ou esvaziar, podiam também aprisionar, no entanto eram as combinações e confrontações de letras, palavras, idéias e interpretações que mais tarde o guarnecia de um âmago de liberdade, mas sentia falta de poder externá-la. O que mais ansiava era que no lugar reservado a intocável coleção uma ventania revirasse tudo no lugar, levasse consigo todas aquelas capas a fim de que não só ele experimentasse o novo das novas palavras e do reboliço que as novas junções de idéias poderiam trazer a todos os outros daquele lugar tão tolhidos por suas visões direcionadas, insuficientes e instantâneas, tão ligadas a irrelevantes superficialidades. Infelizmente, senhor pássaro, sinto lhe frustrar, não sei como ficou o livro, não pude saber do desfecho desse casual encontro, pois não marquei o caminho de retorno, fui levada às pressas para as revoltas ondas e não soube como voltar. Contudo ainda espero que algum dia ainda ouça de outros ventos o que aconteceu por lá.